Divulgação: História e Luta de Classes, número 6.

capa1Divulgamos o lançamento do 6o número da Revista História & Luta de Classes, com o dossiê IMPERIALISMO: Teoria, Experiência Histórica e Características Contemporâneas. Segue abaixo o sumário da revista . A revista é produzida por um coletivo de associados e pode ser adquirida diretamente com seus integrantes ou através do e-mail historiaelutadeclasses@uol.com.br, mediante depósito bancário no valor de R$ 15,00 por exemplar (acrescido de R$ 5,00 para despesas de postagem nacional). Consulte sobre preço e custo para envio de mais de um exemplar.

HISTÓRIA & LUTA DE CLASSES – NÚMERO 6

IMPERIALISMO

 

SUMÁRIO

Apresentação dos Coordenadores do Número

Virgínia Fontes, Lúcio Flávio de Almeida e Kênia Miranda

 

 

ARTIGOS

Na autora do Imperialismo: o Império Egípcio do XVI Século Antes de Cristo

Fábio Frizzo

 

O antiimperialismo de Stálin e a Questão Chinesa dos Anos de 1920

Danilo Enrico Martuscelli

 

O Imperialismo e as teorias dos “Ciclos Longos”: um diálogo improvável

Gilson Dantas

 

Sistema Imperial: Hierarquias, Redes e Clientes – o caso da Somália

James Petras

 

A Luta pela Palestina

Luis Bernárdo Pericás

 

Em nome da Ordem Democrática e da Reconciliação Nacional: Igreja Católica e imperialismo na América Latina – o caso chileno

Ana Lima Kallás

 

A Questão energética: a Venezuela do petróleo entre os anos de 1910 e 1980

Mariana de Oliveira Lopes

 

As origens da internacionalização das empresas de engenharia brasileiras

Pedro Enrique Pedreira Campos

 

 A cultura esportiva sob a hegemonia do capitalismo monopolista

Adriana Machado Penna

 

 

TRADUÇÃO

O Imperialismo e a guerra

Karl Kautsky

 

Percalços para traduzir e editar um texto

Diana Berman e Virgínia Fontes

 

Comentário: Kautsky e o Imperialismo

Virgínia Fontes

 

 

ENSAIO

O Subimperialismo Brasileiro na América Latina

Sérgio Domingues

 

 

RESENHAS

Imperialismo Contemporâneo – espoliação e benevolência

Virgínia Fontes

 

Soldados, borracha: duas palavras, várias preposições

Ana Lúcia da Costa Silveira

 

“Pelo Pão e Pela Liberdade”: a luta contra a exploração de escravizados e livres no Rio de Janeiro entre meados do século XIX e início do século XX.

Kênia Miranda e Rômulo Mattos

APRESENTAÇÃO

            Estamos em meio a mais uma grande crise do capital e vivenciando um momento crítico – econômica e socialmente falando – do imperialismo. Sua compreensão exige retomar a reflexão sobre o volume de transformações que a expansão do capitalismo produz e impõe, ao expandir sua acumulação e atuar como se ela fosse infinita. Não se trata apenas das modificações mais visíveis, como as econômicas – novos produtos, grandes conglomerados (corporações), proprietários quase abstratos (acionistas ou “marcas”), novos setores predominantes ou novas tecnologias – ou os formatos institucionais. Marx ao explicitar, no Manifesto do Partido Comunista, que a burguesia deve revolucionar constantemente os instrumentos de produção e as relações de produção, enfatizava que isso correspondia a revolucionar o conjunto das relações sociais. Diferentemente dos períodos históricos pré-capitalistas, cuja condição de existência repousava sobre a permanência e a tradição, a dinâmica capitalista impõe transformações brutais na vida social de parcelas sempre crescentes da população planetária. Se há uma tradição capitalista, ela se traduz no desenraizamento permanente, na exigência constante de comprimir o tempo e o espaço, resultantes da necessidade imperiosa do capital de expandir-se através da subalternização de massas sempre ampliadas de trabalhadores, capazes de valorizar massas gigantescas de capital, ao mesmo tempo em que procura desvencilhar-se desses mesmos trabalhadores que são sua substância.

            O imperialismo, já em primórdios do século XX, representou uma dessas revoluções do capital, que modificou o panorama mundial para assegurar a permanência da extração do mais-valor e a reprodução ampliada do capital. Com Lênin, aprendemos a analisar uma modificação qualitativa no capitalismo, resultante das transformações impostas nas relações sociais – já então mundiais – pela nova escala de concentração de capitais que tinha lugar nos países centrais.

            Estamos vivendo um período no qual ocorreu um novo impulso de centralização e concentração de capitais, frente ao qual os parâmetros anteriores parecem tímidos e limitados. A partilha do mundo intensificou-se, de inícios do século XX para este primórdio do século XXI, trazendo novos formatos. A exportação de capitais e sua correspondente e cristalizada divisão internacional do trabalho, deu lugar uma mega-concentração internacionalizada de capitais, a novas formas de expropriação social e a uma socialização internacionalizada do processo de produção e da força de trabalho de novo tipo, sob a batuta de um capital que se pulveriza para assegurar sua concentração. As organizações dos trabalhadores foram frontalmente atacadas ao mesmo tempo em que o processo de trabalho e as formas jurídicas de sua contratação procuram pulverizar a classe trabalhadora. A capacidade multiplicada de destruição da natureza ameaça destruir a própria humanidade.

            Em poucos mais de 30 dias, os EUA – e uma série de Bancos Centrais de diferentes países em redor do planeta – disponibilizaram mais de um trilhão de dólares tentando refrear a crise financeira, resultante de uma sobreacumulação de capitais e do estímulo ao capital fictício. Este último, entretanto, produziu  efeitos sociais bem reais, intensificando as expropriações primárias (da terra) e secundárias (de direitos, de proximidade entre os trabalhadores) e modificando as próprias relações sociais, objetiva e subjetivamente. Uma nova sociabilidade imperialista vem sendo posta em prática e ela se espraia na política (homogeneização e irrelevância dos partidos), na intensa disponibilização (“libertação”) de trabalhadores inflexivelmente reduzidos a seres flexíveis para o capital, na cultura, no empresariamento generalizado e nas formas de comportamento.

            Ao contrário do que propugnam algumas teses, não há uma cisão entre o capital financeiro e o produtivo, uma vez que capital financeiro é a fusão de diversos tipos de capital. Capital bancário e capital produtivo são faces do mesmo processo de acumulação atual. A contradição entre acumulação, concentração e expansão chega ao seu limite em uma crise que não é inaugural, mas cíclica, embora com características próprias.

            Depois de 30 anos bloqueando qualquer recurso público para as áreas sociais  o papel do Estado como “gestor dos negócios da burguesia” é exercido hoje ainda mais explicitamente. A inflexão ocorrida na forma da política (a intervenção e a estatização) não deve obscurecer a permanência da mesma política: prossegue a doação de recursos públicos ao grande capital, impulsionando ainda mais sua concentração. Isso significa que os estados estão comprometendo nosso futuro sob o tacão do capital, que continua a capitanear as operações de salvamento de suas condições de predomínio. Qualquer modificação diferente daquelas que visam recompor a expansão capitalista dependerá da luta da classe trabalhadora, que deverá agora fazer frente tanto aos capitais de seu próprio país como aos capitais internacionalizados.

            Este dossiê de História & Luta de Classes se alia ao combate de nosso tempo: avançar na compreensão teórica do imperialismo e socializar a reflexão de seu processo histórico e de suas diferentes modalidades, de modo a cooperar para a emancipação dos trabalhadores e da humanidade.

            Abrindo a revista, temos um objeto incomum à problemática do imperialismo – Na aurora do imperialismo: o império egípcio do XVI antes de Cristo. O artigo, de autoria de Fábio Frizzo, mostra a possibilidade e a necessidade de um diálogo entre o passado, a História Antiga, e o presente ao apresentar a hipótese de que o Egito se configurou como um dos primeiros sistemas imperiais da humanidade. Cabe ressaltar que, para análise de seu objeto – o império egícpcio – Frizzo se utiliza de conceitos “contemporâneos”, tais como hegemonia e o próprio conceito de imperialismo.

            Danilo Martuscelli, em O antiimperialismo de Stálin e a questão chinesa nos anos de 1920, analisa os Escritos Políticos de Stálin sobre o papel dos comunistas na China após a instauração da República, revelando que o que sustenta este antiimperialismo é, na verdade, uma perspectiva política de colaboração de classes.

Em O Imperialismo e as teorias dos “ciclos longos”: um diálogo improvável, Gilson Dantas critica as teorias dos ciclos longos, em particular a de Kondratiev. Como contraponto ao viés estruturalista desta teoria, que prescinde da luta de classes nas análises sobre a economia capitalista, o autor recorre à teoria do imperialismo de Lênin para um debate crítico.

            O caráter contemporâneo do Imperialismo e a sua complexa rede de sustentação internacional, uma vez que não há um centro de poder auto-suficiente, é o tema de Sistema Imperial: Jerarquías, Redes y Clientes – El Caso de Somália, de James Petras (texto retirado do site Rebelión).

Luiz Bernardo Pericás, em a Luta pela Palestina, busca as origens da crise entre Israel e os palestinos para debater os conflitos da região e as suas relações internacionais e apontar como solução a luta pela construção “de um Estado palestino ‘laico’, independente e soberano”.

            A América Latina é objeto de dois artigos: Em nome da ordem democrática e da reconciliação nacional: Igreja Católica e imperialismo na América Latina – o caso chileno, de Ana Lima Kallás, e A questão energética: a Venezuela do petróleo ente os anos de 1910 e 1980, de Mariana de Oliveira Lopes. O primeiro artigo considera a instituição católica como um aparelho privado de hegemonia cujo papel de difusor da política imperialista para a América Latina pode ser verificado no caso chileno. Já o segundo, discute o protagonismo da exploração do petróleo no processo de acumulação e concentração do capital na Venezuela. 

            No cenário nacional temos a análise das chamadas “multinacionais brasileiras”, seja no que tange a diversificação de seus negócios, seja na sua atuação externa, tema do artigo de Pedro Campos, intitulado As origens da internacionalização das empresas de engenharia brasileiras.

A cultura esportiva sob a hegemonia do capitalismo monopolista, de autoria de Adriana Machado Penna, encerra a seção dos artigos.  Neste trabalho, a autora problematiza a massificação da cultura esportiva através das políticas públicas construídas para o esporte sob a orientação da ONU, como por exemplo, as do governo Lula.

A decisão pela tradução do texto de Kautsky de 1914 – O Imperialismo e a guerra – que trata do caráter econômico da expansão capitalista e as suas características militares, se justifica por ser o texto citado por Lênin na sua obra clássica: O Imperialismo, fase superior do capitalismo. As dificuldades que envolveram esta escolha e a pesquisa pelas publicações disponibilizadas estão registradas por Diana Berman e Virgínia Fontes em Percalços para traduzir e editar um texto. A produção de Kautsky e suas apropriações, bem como a diferença entre tal abordagem sobre o Imperialismo e a de Lênin são ainda objeto de análise de Virgínia Fontes em Comentários: Kautsky e o imperialismo.

            O debate sobre o Brasil conta ainda com o debate trazido por Sérgio Domingues sobre O Subimperialismo brasileiro na América Latina, em caráter ensaístico.

            Instigamos à leitura de David Harvey, na obra “O Novo Imperialismo”, através da resenha de Virgínia Fontes: Imperialismo Contemporâneo – Espoliação e Benevolência. Da mesma forma, provocamos nossos leitores à se debruçarem sobre o livro de María Verónica Secreto – “Soldados da Borracha. Trabalhadores entre o sertão e a Amazônia no governo Vargas” – através da resenha de Ana Lúcia da Costa Silveira: Soldados, Borracha: duas palavras, várias preposições.

Por fim,  “Pelo Pão e pela Liberdade”: a luta contra a exploração de escravizados e livres no Rio de Janeiro entre meados do século XIX e início do XX  resenha o novo livro de Marcelo Badaró Mattos. Os autores, Kenia Miranda e Romulo Mattos, destacam as contribuições de “Escravizados e Livres: experiências comuns na formação da classe trabalhadora carioca” para a compreensão do processo complexo e contraditório de fazer-se classe em uma situação histórica concreta.

            Registramos nosso agradecimento a Ronaldo Rosas Reis, professor e artista  plástico, que nos possibilitou a fruição coletiva de sua obra: Estampilha (1985-2005). Instado a ceder o seu desenho de Lênin para ilustrar a capa deste número da revista, Ronaldo foi além e produziu um novo trabalho artístico realizado a partir de uma montagem da Estampilha. Nesse sentido, nosso agradecimento é duplo.

Outubro de 2008.

 

 

 

 

 

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Divulgação: História e Luta de Classes, número 05.

 

Divulgamos o lançamento do 5o número da Revista História & Luta de Classes, com o dossiê TRABALHADORES E SUAS ORGANIZAÇÕES. Segue abaixo o sumário da revista . A revista é produzida por um coletivo de associados e pode ser adquirida diretamente com seus integrantes ou através do e-mail historiaelutadeclasses@uol.com.br, mediante depósito bancário no valor de R$ 15,00 por exemplar (incluída a postagem nacional).

 

Conforme explicitado no editorial de seu primeiro número, a revista orienta-se pelos “ventos constantemente renovados do marxismo”: E, “em tempos de domínio social da barbárie neoliberal e de hegemonia conservadora no pensamento acadêmico, com destaque para a área da História e das Ciências Sociais, a Revista História & Luta de Classes procura servir como ferramenta de intervenção daqueles historiadores e produtores de conhecimento que se recusam a aderir e se opõem a essa dominação”.

Estão disponíveis ainda exemplares dos números 3 (Escravidão, Trabalho, Resistência) e 4 (América Latina Contemporânea).

Comissão Editorial – História & Luta de Classes

 

HISTÓRIA & LUTA DE CLASSES – NÚMERO 5

TRABALHADORES E SUAS ORGANIZAÇÕES

ABRIL DE 2008

 

 

SUMÁRIO

Apresentação: A Classe Trabalhadora, suas lutas e organizações

Beatriz Loner, Eurelino Coelho e Marcelo Badaró Mattos

 

ARTIGOS

Existe uma economia moral dos trabalhadores? Apontamentos para uma história das estratégias operárias durante a Segunda Guerra Mundial

Fernando Pureza

 

Marxismo e Revolução: da “Estratégia de Derrocada” à “Guerra de Posições” 

Ricardo Gama da Costa

 

Conluio e cadeias: Considerações sobre a direção pecebista na conjuntura do Estado Novo. 1936-1940

Carlos Zacarias de Senna Júnior

 

O Jornal do Povo e a luta por direitos – 1948

Victor Coelho

 

O ABC dos trabalhadores no pós-1964: Os grupos de Teatro Ferramenta e Forja

Kátia Paranhos

 

Das lutas operárias às reformas reacionárias: uma proposta de periodização para a história do Partido dos Trabalhadores

Felipe Demier

 

A CUT e a mobilização popular na Constituição de 1988

Gelson Rosentino de Almeida

 

Escombros do muro de Berlim sobre o PT e a CUT

Teones Pimenta de França

 

Memória e conflito no Partido dos Trabalhadores

Igor Santos

 

A conversão da CUT e a relação com o FAT (1990-2000)

Rodrigo Teixeira

 

RESENHAS

Resenha do livro ROCHA, Ronald. O movimento socialista no limiar dos impérios financeiros.

Jefte Pinheiro Júnior

 

Resenha do livro MUNTEAL, VANTAPANE, & FREIXO, (orgs). O Brasil de João Goulart: um projeto de nação

Rodrigo Castelo Branco

 

Resenha do Livro PETRAS, James. Imperialismo e luta de classes no mundo contemporâneo

Waldir José Rampinelli

 

Resenha do Livro AMORIM, Henrique José Domiciano. Teoria social e reducionismo analítico: para uma crítica ao debate sobre a centralidade do trabalho.

Edílson José Gracioli.

 

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Editorial H&LC 05 Os trabalhadores e suas organizações.

              

Há ainda espaço para se escrever história social do trabalho? A classe trabalhadora não deixou de ser um objeto de estudo relevante por ter se perdido a expectativa em seu potencial como protagonista dos projetos e lutas visando a transformação social? Os sindicatos não são instituições destinadas a atuar como parte integrante do sistema do capital e os partidos de trabalhadores não se mostraram, sem exceção, organizações cuja trajetória inexoravelmente se distancia da sua base social original, por conta de sua tendência à burocratização e autoritarismo ou simplesmente de sua traição?

Formuladas por interlocutores mais abertamente conservadores, mas também por analistas e ativistas que se formaram no campo das lutas da classe trabalhadora, tais perguntas nos são postas dia após dia, já faz algum tempo, seja no interior dos movimentos sociais da classe, seja nas Universidades. Enfrentá-las é um desafio teórico necessário para todo e qualquer projeto de construção de um conhecimento crítico e comprometido com a transformação social.

Como não poderia deixar de ser, dada a sua explícita vocação anti-sistêmica, História & Luta de Classes se propôs a apresentar uma contribuição a tal debate, apresentando estudos sobre a classe trabalhadora, suas lutas e organizações, no Brasil e no mundo. Estudos que partem de posições à contra-corrente das respostas – já lugares comuns – mais freqüentes para aquelas perguntas. Perguntas cuja própria enunciação já demonstra o momento que atravessamos, de ofensiva do capital sobre o trabalho e de dificuldades de produção de respostas pelos que resistem ao capital.

Trata-se de um quadro que se constrói em escala mundial. No Brasil, suas manifestações mais recentes passam pela escalada do desemprego nos grandes centros, pelo fato de a maioria da força de trabalho encontrar-se em empregos informais, pela diminuição no número de greves e do número de trabalhadores(as) sindicalizados(as). Trata-se, porém, de um quadro que também possui marcas fortes das opções ideológicas de boa parte das lideranças políticas dos movimentos da classe trabalhadora. Haja vista, no Brasil, o processo de incorporação à ordem pelo qual passaram importantes construções das lutas de fins dos anos 1970 e anos 1980, como a CUT, cuja conversão ao sistema do capital iniciou-se na década de 1990, mas acelerou-se sobremaneira com o governo do ex-líder sindical Lula da Silva.

Nada disso, entretanto, significa fim de linha, ausência de alternativas ou fim da história. Pelo contrário, como em outros momentos de refluxo das lutas, estão em curso processos de reorganização da classe que, embora hoje ainda insipientes, demonstram que o futuro das lutas sindicais e políticas dos trabalhadores, como sempre, continua em aberto para que esses construam sua própria história, ainda que em condições adversas.

O que esse número de História & Luta de Classes demonstra é que, do lado da Universidade, ainda existe reflexão historiográfica diversificada e de qualidade a respeito dos trabalhadores, suas lutas e organizações. As lutas sindicais estão aqui presentes, como no artigo de Fernando Pureza, a respeito das mobilizações da classe trabalhadora em Porto Alegre na conjuntura do final do Estado Novo. Outros artigos trataram do campo sindical em seu passado mais recente, abordando diversos aspectos da trajetória da Central Única dos Trabalhadores, como o de Rodrigo Teixeira a respeito da relação entre a CUT e o FAT e os artigos de Teones França, a respeito do impacto da crise dos regimes do Leste Europeu sobre diferentes correntes internas da CUT, e de Gelson Rozentino, sobre a atuação da CUT na Assembléia Nacional Constituinte. Teones e Gelson introduzem também, ao lado da CUT, o Partido dos Trabalhadores, abordado também por Felipe Demier, em artigo sobre as mudanças de rumo do partido, e por Igor Gomes, que discute a disputa de memórias que se instaurou entre os militantes do partido, a partir de sua chegada ao governo federal, em 2003. Ao tratarmos de lutas sindicais, pensamos sempre em greves, centrais, estrutura sindical. Mas, se a consciência de classe emerge da experiência de classe, tratada em termos culturais, na forma de valores, tradições e instituições, papel importante pode ser desempenhado pela aproximação entre os militantes sindicais e os “militantes culturais”, como o demonstra o artigo de Kátia Paranhos sobre os grupos teatrais do ABC, no período de emergência do “novo sindicalismo”.

As organizações de esquerda de um passado menos próximo também estão presentes nas reflexões aqui contidas, como no caso da análise de Carlos Zacarias sobre o PCB no período do Estado Novo e no estudo de Victor Coelho sobre o Jornal do Povo, periódico pecebista publicado em Belo Horizonte, no ano de 1948. A reflexão teórica, que atravessa todos os artigos, é o destaque no estudo de Ricardo Costa, sobre a estratégia revolucionária sistematizada por Antonio Gramsci. O número apresenta ainda quatro resenhas sobre obras relevantes, publicadas no último período e que encontram relação com a temática geral dos artigos.

O fato de História & Luta de Classes chegar ao seu 5o. número, com as tiragens dos números anteriores praticamente esgotadas, demonstra o fôlego da iniciativa e o interesse demonstrado, principalmente pelos historiadores em formação, por uma publicação de História que insiste no referencial do materialismo histórico, como ferramenta importante não apenas para explicar o mundo, mas também para transformá-lo.

Os editores deste número

Beatriz Ana Loner; Eurelino Coelho e Marcelo Badaró Mattos

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Apresentação da edição: América Latina Contemporânea.

A década de 90 ficou marcada pela ofensiva neoliberal em escala planetária. O caráter destrutivo das suas experiências privatistas e a minimização da função social do Estado em proveito da hipertrofia de sua função repressiva, condenaram milhões de pessoas à extrema indigência, determinando a generalização da desigualdade social extrema e da corrupção sem limites, a qual perpassou as estruturas institucionais (particularmente no âmbito da Política e da Justiça). Por sua vez, as camadas trabalhadoras viram, tragicamente, os direitos historicamente conquistados serem negados e qualificados como “privilégios”, enquanto os sindicatos, até então instrumentos fundamentais de resistência e mobilização social, eram acuados, cooptados e esvaziados de conteúdo. Simultaneamente, tradicionais partidos políticos de esquerda – de antecedentes combativos -, empreenderam uma radical guinada à direita, enredando-se em contradições perturbadoras resultantes de desvios programáticos e da priorização de miraculosas alianças políticas visando uma rentabilidade eleitoreira que os constituísse em governo.

A América Latina foi sensivelmente atingida por esse processo. No final dos anos 80 as expectativas de mudança estrutural, represadas durante anos de autoritarismo, haviam sido soterradas pela imposição das “recomendações” ditadas pelo FMI que impunham prioridade aos compromissos financeiros internacionais em detrimento das históricas demandas sociais. O saldo para a região foi terrível: a década perdida. Nem crescimento econômico, nem ruptura com as estruturas internacionais de dominação, muito menos soluções para as mazelas sociais crônicas. No plano da política externa, o fim da URSS acirrou ainda mais a agressividade dos EUA em relação à Cuba, agravando o bloqueio com a aprovação da Lei Torricelli e, posteriormente, da Emenda Helms pelo Congresso dos EUA, revigorando sua presença regional, que já era fortemente visível nos Estados de Segurança Nacional da América do Sul e na contra-revolução centro-americana, nas décadas anteriores. Assim, os anos 90 anunciavam novamente formas agressivas de intervenção, expressas, por exemplo, no Plano Colômbia e na articulação de golpe contra Chávez.

Nos anos 90, a combinação da crise estrutural que atingiu o mundo do trabalho e com o abandono de políticas estatais que, de uma forma ou de outra, permitiam certa regulação da vida social, agravaram sensivelmente o quadro social regional e as economias nacionais; a miséria e a luta pela sobrevivência se espalharam como flagelo no interior das formações sociais, marcando a falência de qualquer projeto ou perspectiva nacional-desenvolvimentista. A cultura política do medo que resultou do período dos regimes repressivos é certamente elemento determinante deste processo. Sua superação se tornou um dos grandes desafios para a formação de novas gerações de lideranças. Aliás, a destruição física, política e/ou mental que as ditaduras realizaram contra a militância social e política latino-americana redundou na sua ausência e na desconexão na transmissão de experiências de luta social entre duas gerações de latino-americanos, fatores que facilitaram enormemente o assalto neoliberal.

No final dos anos 90 as políticas neoliberais deram sinais evidentes de desgaste, inclusive, atingindo parte da burguesia anteriormente favorecida com elas. A generalização da perigosa embora atomizada instabilidade social obrigou as autoridades do Banco Mundial, do FMI e dos EUA a reclamar dos efeitos “perversos” do neoliberalismo. Cinicamente, nessa atitude, escondiam que: 1º) a instabilidade social gerada pelas políticas neoliberais ameaçava seus interesses; 2º) as promessas de crescimento econômico feitas pelos apologistas da desregulamentação e da primazia total do mercado haviam caído no vazio da criminosa exclusão; 3º) o fato do trabalho “sujo” já ter sido feito (privatizações, desnacionalizações, flexibilizações), tornava desejável suavizar o neoliberalismo; 4º) o pedido de substituição se tornou a estratégia do Império e dos seus associados para preservarem-se e dissociarem-se dos nefastos efeitos responsáveis pela fermentação política continental.

Assim, após uma década de hegemonia neoliberal e de suas formas de anestesiamento, parafraseando Eduardo Galeano, podemos afirmar que “as veias da América Latina” continuam abertas, expostas e os efeitos devastadores das políticas neoliberais conformaram graus diversos de respostas e possibilidades de resistência. E mesmo sem clareza nos rumos a tomar, é inegável que essas preocupam aos donos do poder. A América Latina continua pulsando e tem sido palco, nestes últimos anos, do ressurgimento de esperanças e expectativas a partir de projetos políticos que acenaram com possibilidades de mudanças concretas.

A “suavização” das políticas neoliberais – com a conseqüente revigoração da dominação de classes em suas diversas dimensões – caberia aos governos de “centro-esquerda”, através de algumas políticas redistributivistas focalizadas. A escassa margem existente, determinada por mais de uma década de políticas neoliberais e acentuada pelos inúmeros compromissos assumidos pela “centro-esquerda” eleitoral com setores do grande capital financeiro e do agronegócio, tornam compreensível a linha geral de manutenção das políticas anti-sociais. A mobilização social, no entanto, tensiona esses governos de “centro-esquerda”, os quais tem mantido, até agora, com poucas mudanças substanciais, o modelo econômico herdado das administrações que antes denunciavam como neoliberais. Por outro lado, é inegável que os interesses dos EUA (sintetizados na recolonização proposta pelo complexo militar-industrial liderado por Bush e seus falcões ) e do capital internacional continuam tendo um protagonismo central nos caminhos e descaminhos que se colocam como possibilidade à região.

No início de 2007, com eleições presidenciais recém realizadas na maior parte da América Latina, sobressaem algumas características gerais. No âmbito governamental, através da fraude e da repressão generalizadas, mantiveram-se governos explicitamente reacionários em vários países, destacadamente Colômbia e México. Partidos que um dia foram de esquerda – como o PT, a FSLN, a Frente Ampla e o PS chileno – conduzem governos pretensamente de “centro-esquerda” que em realidade renovam e atualizam as políticas neoliberais, assim como o faz o governo Kirchner, com as especificidades de um processo que se inicia em uma crise de hegemonia e que se constitui a partir do peronismo e não de um partido outrora de esquerda. Já os governos da Bolívia, Equador e Venezuela apresentam a particularidade de empreenderem em algumas situações embates efetivos com setores importantes da burguesia e com o imperialismo, sem, no entanto, colocar em questão os fundamentos da ordem capitalista. As diferenças de projetos e estilos sintetizados nos atuais governos da Argentina, do Brasil, da Bolívia e, particularmente, da Venezuela, assinala a existência de perspectivas nacionais diferenciadas diante do tão citado processo de integração latino-americano.

A reflexão em torno das políticas governamentais seria, no entanto, falha e insuficiente, sem referência ao desenvolvimento da luta de classes nos espaços não-institucionais. Nos últimos anos têm sido constituídas formas, organizações e métodos de lutas diversos, enfrentando a repressão, denunciando as políticas anti-sociais e recolocando o protagonismo das massas trabalhadoras. Formas organizativas tão diversas como o movimento piquetero argentino, a Comuna de Oaxaca no México, as insurreições indígenas no Equador, a constituição da Coordenação Nacional de Lutas no Brasil, a insurreição estudantil chilena e as juntas vecinales de El Alto, na Bolívia recolocam o protagonismo das massas. Ainda assim, o avanço destas lutas efetivamente coloca em crise a dominação burguesa. A derrubada inúmeros governos neoliberais na Argentina, Bolívia e Equador evidencia a força deste movimento e, ao mesmo tempo, sua limitação, na incapacidade de articular uma ofensiva que permitisse a efetiva transformação da ordem social. Limitação que se expressa, por exemplo, na participação reduzida do movimento sindical nos movimentos mais radicalizados, na influência da ideologia pós-moderna que interdita a reflexão em torno do poder (“mudar o mundo sem tomar o poder”) e na ausência de uma organização partidária de massas com perspectiva revolucionária. Ainda assim, para além das limitações, sobressaem os avanços da luta da classe trabalhadora, através das lutas de rua desmente o discurso do “fim da História”, acirra a crise do neoliberalismo e explicita a incapacidade do capitalismo em equacionar à crise social que provoca. Ou sequer amenizá-la nos moldes que outrora constituíram os governos nacional-desenvolvimentistas.

Enrique Padrós e Gilberto Calil

Coordenadores do número

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Normas para publicação.

1. A revista História & Luta de Classes [historiaelutadeclasses@uol.com.br] nasce em tempos de domínio social da barbárie neoliberal e de hegemonia conservadora no pensamento acadêmico, com destaque para a área da História e das Ciências Sociais. Ela procura servir como ferramenta de intervenção de historiadores e produtores de conhecimento que se recusam a aderir e se opõem ativamente a essa dominação.

2. Os objetivos da revista História & Luta de Classes estão expressos na “Apresentação” do seu primeiro número. Eles definem os marcos referenciais para os interessados em colaborar com a revista ou propor sua integração ao coletivo da revista.

3. A revista está aberta a propostas de colaborações, reservando-se o direito de exame dos textos enviados espontaneamente à redação. Sem exceção, todos os artigos serão submetidos a parecer.

4. A revista História & Luta de Classes dirige-se aos estudantes e professores de história e ciências sociais, em especial, e ao grande público interessado, em geral. Sem concessões de conteúdo, na forma e na linguagem, os autores procurarão que seus artigos alcancem o mais vasto público leitor.

5. Os artigos poderão ser enviados através de e-mail em arquivo anexado em formato Word para o endereço historiaelutadeclasses@uol.com.br ou para os organizadores de cada número. Os textos enviados deverão ser inéditos, no relativo à publicação impressa, e não excedendo os 35.000 caracteres, contando notas de rodapé e os espaços em branco. Os originais deverão conter título, nome do autor e filiação institucional (universidade, escola, sindicato, etc.).

6. Resenhas, com um máximo de 15.000 caracteres, seguirão as mesmas regras.

7. Referências bibliográficas completas deverão constar em nota de rodapé (e não ao final do texto), obedecendo à seguinte formatação:

7.1. Livros: Nome Sobrenome. Título em itálico. Cidade: Editora, ano de publicação, página citada. Ex.: CAPITANI, Avelino Biden. A rebelião dos marinheiros. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1997. p. 123.

7.2. Capítulo de livros: Sobrenome, nome. Título do capítulo. In: Sobrenome, nome (org.). Título do livro em itálico. Cidade: Editora, ano de publicação, página citada. Ex: BROUÉ, Pierre. O fim da Segunda Guerra e a contenção da revolução. In: COGGIOLA, Osvaldo (org.). Segunda Guerra Mundial: um balanço histórico. São Paulo: Xamã/FFLCH-USP, 1995. p. 22.

7.3. Artigo de periódico: Sobrenome, Nome. Título do artigo. Nome da revista em itálico, v. (volume), n. (número), mês e ano de publicação, página citada. Ex.: BARRETO, Teresa Cristófani; GIANERA, Pablo; SAMOILOVICH, Daniel; Piñera, VIRGILIO. Cronologia. Revista USP, n. 45, out. 2000. p. 149.

8. As citações de outros textos deverão estar entre aspas duplas no corpo principal do texto e a referência bibliográfica correspondente deve ser colocada em nota de rodapé.

Próximos Dossiês:

Número 6 – Imperialismo: teoria, experiência, história e características contemporâneas. Prazo para encaminhamento de contribuições: 30 de abril de 2008

Número 7 – Estado e Poder. Prazo para encaminhamento de contribuições: 31 de julho de 2008.

Número 8 – Questão Agrária. Prazo a ser definido.

Número 9 – Teoria da História. Prazo a ser definido.

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Apresentação História e Luta de Classes nº 01.

Em tempos de domínio social da barbárie neoliberal e de hegemonia conservadora no pensamento acadêmico, com destaque para a área da História e das Ciências Sociais, a REVISTA História & Luta de Classes procura servir como ferramenta de intervenção daqueles historiadores e produtores de conhecimento que se recusam a aderir e se opõem a essa dominação.

As diferentes manifestações dos conflitos sociais ao longo do tempo; a história social do mundo do trabalho; as propostas e processos revolucionários; os temas políticos e as contradições econômico-sociais atuais e passadas; a cultura vista por uma perspectiva materialista são alguns dos temas e áreas de estudo que serão abordados nos artigos publicados por REVISTA História & Luta de Classes. Diante do atual predomínio das anódinas e pacificadoras histórias narrativas desprovidas, ao menos em forma explícita, de referenciais conceituais, REVISTA História & Luta de Classes pretende também servir de canal para reflexão teórica, particularmente para aquela orientada pelos ventos constantemente renovados do marxismo. Nesse sentido, um dos seus objetivos será a retomada do debate sobre os sistemas, formas e modos de produção conhecidos através da história, tema semi-abandonado após a vitória da contra-revolução neoliberal de fim dos anos 1980, que proclamou prepotente o “fim da história” e o domínio atemporal do modo de produção capitalista. Nosso público alvo privilegiado é o dos estudantes e dos professores de História, bombardeados constantemente, em suas salas de aula, nas bibliografias de cursos, nos manuais, revistas e textos historiográficos pelos arautos de uma História reduzida à narrativa do pitoresco e em geral reprodutora de uma história oficial, em que pitadas de culturalismo, de subjetivismo e episódios picantes formam uma receita valorizada no mercado cultural, mas descartável pelos critérios acadêmicos científicos rigorosos e pela irrelevância social de suas propostas. Interessa-nos, igualmente, atingir outros universitários, não apenas dos diversos ramos das Ciências Sociais, que conosco compartilhem essa perspectiva crítica. Pretendemos, também, que a REVISTA História & Luta de Classes sirva de instrumento para os militantes engajados em movimentos e organizações comprometidas com a confrontação com o mundo do capital. A REVISTA História & Luta de Classes possuirá editoriais, dossiês, artigos de temas livres, resenhas, transcrição de documentos, entrevistas e notícias. Como em qualquer outro periódico científico, haverá procedimentos de análise dos artigos por pareceristas e de adequação às normas editoriais da revista. Porém, tratando-se de periódico com compromissos políticos e

sociais explícitos, os artigos devem adequarse à proposta político-editorial sintetizada nessa apresentação. Inicialmente, REVISTA História & Luta de Classes organizou- se em torno de um pequeno núcleo de historiadores e cientistas sociais que assumiram, transitoriamente, as funções de editores. A partir desse núcleo organizou-se grupo de membros fundadores sobre o qual repousa grande parte da responsabilidade dessa iniciativa, através da proposta de artigos, da formulação de pareceres, da divulgação e venda da revista, da gestão de seus rumos e organização.

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